Se construindo em um movimento épico ao som da composição do iraniano Ramin Djawadi, abertura da série nos revela aspectos importantes da narrativa
Como grandes fãs da cultura nerd em geral, as aberturas ou main titles não podiam ficar de fora. E para estrelar a série de posts que falaremos sobre elas, iremos trazer a abertura da recente série lançada pela Netflix: 3 Body Problem ( ou “O Problema dos 3 Corpos). Portanto, se você assistiu a série e curtiu, fica com a gente até o final, pois irá gostar do post também.
As aberturas
Muitas vezes deixadas de lado, as aberturas ou main titles oferecem, no geral, ao público de uma série, novela, anime ou mesmo filme um respiro entre o conteúdo apresentado e o “momento anterior”. Ela é a introdução, que pode ou não estar muito relacionado ao conteúdo da obra. As aberturas nós dá a atmosfera daquela mídia, revelando seu tema e gênero e, muitas vezes, embora não seja regra, nos dá pistas importantes sobre os eventos dentro do material em que está inserido.
Elas podem ser ricas ou pobres de conteúdo, algumas vezes são feitas apenas para se aliar à uma música chiclete e identificar a mídia em questão, outras vezes podem ser muito bem trabalhadas para enriquecer ainda mais o conteúdo que iremos assistir. Elas apresentam o elenco principal e desenvolvedores, que muito provavelmente não apareceriam em nenhum outro momento.
É por isso que nós da Cultura Pixel gostamos de analisá-las, para mostrar um trabalho árduo que pode ser cheio de significados.
Entendendo o escopo da série
Antes de analisar a abertura em si, é importante fazer um panorama sobre a série e seu tema. Acompanhe!
Lançada em março, 3 Body Problem é uma série estadunidense de ficção científica que explora a temática alienígena. Porém, de um ponto de vista mais “científico” e menos “guerra nas estrelas”. Desenvolvida pelos mesmos produtores da popular Game of Thrones, David Benioff e D.B. Weiss, em parceria com o escritor e produtor chines Alexander Woo (True Blood), a série é uma releitura, a modo próprio – como afirmaram os produtores -, do romance chines de Liu Cixin, que leva o mesmo nome.
Apesar do tema, o escopo da série aponta mais pra questões filosóficas, existenciais e científicas sobre a suposta vinda de alienígenas para a terra. Isto é, menos sobre conflitos alienígenas, pelo menos em sua primeira temporada. Logo, ela nos apresenta questões morais como “o que fazer no fim de mundo”, “o sentido da vida” e “decisões científicas amorais” entre outras. E se encontra, ao menos em tese, na chamada hard science fiction.
O grupo principal de protagonistas, que são cientistas, usam seus conhecimentos para desvendar estranhos acontecimentos que marcam o estilo da série em seus primeiros episódios. Além disso, mistérios e quebra-cabeças pessoais e particulares que parecem não fazer sentido logo se transformam em um problema universal com a presença de alienígenas capazes de se comunicar através de um jogo de realidade virtual altamente tecnológico.
No entanto, vale lembrar que a trama original do livro se localiza na China, logo, seus personagens e histórias possuem fortes ligações com a cultura chinesa. Porém, a versão da Netflix expande para o ocidente e aumenta o escopo, escolha que foi alvo de críticas.
A abertura de 3 Body Problem (O Problema dos 3 Corpos)
Tendo isto como base, acompanhe abaixo a abertura produzida e dirigida pelo célebre estúdio Antibody.tv (responsável por aberturas de famosas séries como Westworld e True Detective):
An epic title sequence crossing the galaxy, a fitting opening to the Netflix adaption of the acclaimed and iconic science fiction novel 3 Body Problem.
Reprodução Antibody.tv
Observando o trecho acima, retirado da descrição da produtora, já nos revela a ideia geral da abertura: “uma sequência – tradução própria -, épica atravessando a galáxia”. Em menos de um minuto, a abertura sai de um universo micro e parte para um universo macro e, neste meio, observamos alguns detalhes.
O micro e macro universo
Primeiramente, enxergamos a imagem de um átomo e a chamada Nuvem Oort, como revelado pelos próprios produtores em um post no instagram. Em poucos segundos, eles se transformam em um aglomerado de glóbulos de sangue que, em seguida, se tornam tecidos, ossos, o sistema nervoso e, por fim, aos 15 segundos, é revelado o corpo de um homem fazendo sexo com uma mulher. Até este momento, nada diretamente relacionado aos eventos da série é apresentado.
Adiante, a tela nos conduz para visão de um prédio e começa se afastar relativamente rápido, revelando uma “rede” de transportes urbanos que se parecem com as conexões vistas no universo micro anteriormente. Neste momento, há uma pequena pausa no som e se mantêm somente um solo de piano para marcar esta transição para o macro universo, logo após, ganha um novo tom, mais épico e acelerado.
Todo o micro universo apresentado é transformado, aos 35 segundos, no universo exterior. É apresentado o planeta terra, o sistema solar e, se distanciando mais, há transições para o que provavelmente são sóis em uma galáxia muito distante, é a partir disso que podemos fazer inferências mais diretas sobre a temática da série.
Ao final, em seu ápice, a abertura apresenta um sistema composto por 3 astros, e um pequeno ponto preto, que seria um planeta.
Os San-Ti: encaixando as peças
Com base nisso, é possível extrair duas grandes ideias da abertura, porém teremos de dar spoilers da série.
A primeira é que a visão que acompanhamos do início ao fim navegando pelo universo é provavelmente da raça alienígena antagonista: os San-TI. Na série, são seres extremamente desenvolvidos tecnologicamente que habitam há 400 anos luz da terra. É justamente sua tecnologia que dá a raça capacidade para espionar a terra, mesmo estando tão distante dela. Estes alienígenas revelam saber muito mais do que deveriam sobre os humanos, e por isso a abertura é tão detalhada em relação aos aspectos da terra, provavelmente pra ilustrar que eles sabem mais e estão vigiando os humanos em cada movimento.
A segunda ideia é a mais óbvia, mas interliga com a primeira e dá mais sentido à ela, a do problema de três corpos. Este, na verdade, é um problema existente na física real que tenta estudar o comportamento de um corpo celeste regido pela força gravitacional de três corpos. Na série, os San-Ti vivem em um sistema solar regido por 3 sóis, e enfrentam problemas devido à instabilidade que a gravidade deles causam em seu planeta. Ao final da abertura, no destino até onde a visão nos leva, fica claro que o planeta apresentado possui 3 astros, referindo-se à três sóis. Os cortes incertos na câmera, fazem referência a possível instabilidade que aquele planeta, à deriva, sofre.
A Nuvem Oort
Um fato curioso e que não podemos deixar de lado é a rápida apresentação da Nuvem Oort, é muito difícil precisar a ideia por trás do conceito específico dela. No entanto, é fácil deduzir que a abertura é cheia de referências ao universo. Independente disso, o que chama a atenção sobre a nuvem é que ela é se apresenta logo no início, fazendo transição com um átomo, algo curioso.
A discussão por trás da Oort é complexa e longa. Porem, em resumo, podemos dizer que se trata de um corpo de rochas ou gelo em formato esférico extremamente antigo que, segundo especulações, teria se formado no início do sistema solar. Portanto está bem longa da terra.
Ainda assim ela é colocada lado a lado com o átomo na abertura. Quando poderia estar em um momento que fizesse mais sentido. Pode ser apenas uma questão conceitual para a abertura, mas entendemos que há uma tentativa de comparação com o micro e macro universo. Que ambos estão intimamente conectados, independente de seus tamanhos. Possuem corpos que se comportam de maneira similar.
Música e estilo artístico
Para além dos aspectos conceituais apresentados, podemos notar também o uso estético das cores e estilo gráfico. Vamos para uma especulação maior, mas é provável que a opção das cores por um azul pálido, além da estética, também demonstra uma visão de raio-x, para ilustrar a capacidade dos San-Ti de observar além da capacidade humana.
Vale lembrar que o instrumental apresentado no decorrer da série é do compositor iraniano Ramin Djawadi, que é um longo parceiro dos trabalhos da Antibody.tv, como a recente Fallout. Esta, sendo peça fundamental para dar o tom épico, aventuresco e sutilmente soturno da abertura.
Por último gostaríamos de ressaltar que a abertura da série é fantástica! E que foi uma pena a Netflix ter reduzido sua apresentação, sem uma justificativa plausível, à apenas 1 episódio. Subaproveitando 1 minuto e 16 segundos valiosos e possivelmente caros. Substituindo por uma versão curta que, apesar de ser interessante, não cria a atmosfera que a abertura completa nos proporciona.
É isto! Gosta de 3 Body Problem? Conte nos comentários o que achou da nossa análise e dê sua opinião, ficaríamos felizes em ler.
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Fontes: Antibody.tv / Instagram Antibody.tv