O segundo jogo da franquia Ni no Kuni expande o que há no primeiro e traz muitas novidades, é divertido, mas peca pela falta de profundidade
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Contextualizando Ni no Kuni II: Revenant Kingdom
Ni no Kuni II: Revenant Kingdom é o segundo título da série, desenvolvido pela Level-5 e publicado pela Bandai Namco, o jogo tem como principal nome Akihiro Hino (conhecido pelo RPG de ação Dark Cloud).
O game acompanha Evan Pettiwhisker Tildrum, um jovem destemido que tem seu reino usurpado – atual Ding Dong Dell pelo conselheiro e amigo fiel de seu pai, além de ter sua governanta, Aranella – que o tem como filho – assassinada. Após perder tudo sai em busca de uma jornada para construir um novo reino onde todos possam ser “felizes para sempre”, o mote de Evan durante sua jornada. Logo no início, se une ao misterioso e inteligente Roland, o presidente (literalmente) dos Estados Unidos num mundo alternativo que se passa na modernidade e que foi parar acidentalmente no mundo de Evan, após uma bomba nuclear atingir seu pais.
Na contramão do primeiro game
Ni no Kuni II: Revenant Kingdom tenta aprimorar vários elementos do primeiro título, mas indo na “contramão” do método de seu antecessor. A começar pelo combate que deixa de ser por turno com um pouco de ação e vira um RPG de ação 100%; muda a fórmula das missões secundárias, que agora possuem um destaque e variedade bem maiores.
O jogo acrescenta acrescenta novas mecânicas de gameplay, como gestão de reino, montagem de exércitos e batalhas de campo, centenas de missões secundárias em busca de deixá-lo mais dinâmico e diverso, com uma abordagem menos travada que no primeiro jogo. Dá, por assim dizer, que ele acerta muito nisso, pois até certo ponto o jogo é divertido, com combate fluído e a sequência de golpes são bonitas e diversas, mas erra feio na facilidade e profundidade que dá à essas novas adições, são muitas coisas pra gerir, mas nem metade delas chegam a ser realmente significantes e relevantes para a progressão.
Ni no Kuni é um jogo fácil!
Ni no Kuni chega a ser tão fácil que – experiência própria – no nível 40 é possível derrotar inimigos de nível 60 sem complicações, ainda que o jogo estranhamente indique um texto vermelho para monstros de nível elevado, orientando uma possível dificuldade que na realidade não existe, e isto se replica às suas demais mecânicas: a gestão de reino é fácil, assim como a gestão de exército, elas possuem muitos elementos que seu tempo de gameplay não consegue acompanhar, sendo batido em 35h para a campanha principal mais algumas secundárias, chega-se ao fim do jogo e ainda está sendo desbloqueado mais um milhão de coisas pra fazer, tem que gostar bastante pra continuar progredindo o reino e tropas. Mas a pior parte na experiência sobre sua a gestão do reino é que pouco influencia na história, quase nada do que existe nela é realmente imersivo.
Falando um pouco mais sobre ele, é possível elevar o nível do reino como um todo, dos mercados existentes, fazer pesquisas acadêmicas pra aprimorar a obtenção e produção de itens, elevar o nível dos cidadãos, dos equipamentos dos personagens e ainda fazer missões pra eles.
Além disso, o game apresenta muitas coisas logo de cara como gestão dos espíritos da natureza (chamados de Higgledies), que “substituem” os familiares do primeiro game, novos parceiros pra jornada, além de que cada um dos 6 personagens podem levar consigo 3 equipamentos que podem ser alternados durante o combate e eles possuem habilidades/magias próprias, e o mini-jogo de exército, onde controlamos e gerimos um batalhão de soldados com habilidades diferentes enfrentando tropas inimigas.
E todos esses novos elementos inseridos contribuem para facilitar ainda mais o jogo, acaba-se entendendo que os desenvolvedores quiseram inseriram elementos excessivamente sem refletir muito sobre sua utilidade no jogo, só porque talvez fosse legal colocar. As habilidades, as diversas armas e acessórios disponíveis soam artificiais, pois pouco impactam no combate em si. Atirar com arco e flecha soa quase da mesma maneira que atirar com uma pistola, soltar magias a distâncias é quase sempre idêntico, pois a propriedade delas não são fortemente consideradas para afetar seus sistema de combate: alguns efeitos de gelo, por exemplo, congelam inimigos temporariamente, mas não proporcionaram com isso outra estratégia se não bater sem parar.
Sistemas com potenciais, mas pouco significativos
A princípio, tudo que ele oferece parece promissor e dá um ar de complexidade, mas a falta de balanço entre a dificuldade, a quantidade de coisas pra fazer, aliado à uma falta de necessidade delas – afinal, metade de tudo que ele oferece realmente é insignificativo – gera uma desmotivação muito grande pra continuar explorando seu mundo; isso não incentiva a exploração do mapa (embora suas missões se esforcem pra isso!), pois muita coisa boa já é entregue nas missões principais e logo de cara, até mesmo inimigos comuns largam bons itens.
Não é muito necessário se preocupar com a gestão das tropas, pois elas quase sempre estarão niveladas com o desafio atual, bastando realizar apenas alguns combates em missões secundárias. Mas é importante se atentar à batalha final, que usa essa mecânica em uma de suas fases e pode gerar uma dor de cabeça.
Sem contar que suas mais de 100 missões secundárias giram em torno de ficar entregando itens, matando inimigos e coletando coisas para NPCs (algo bem típico de RPG), aparentemente sem muito critério, muitos dos itens adquiridos nestas missões são facilmente substituídos por outro que vêm logo em seguida, e muitas das missões não acrescentam nada para a história, acabam sendo mais pra aumentar o tempo de jogo, logo chega um momento que não faz mais sentido fazê-las, ainda que elas sejam relativamente diversas.
Vale ressaltar que as missões secundárias também tentam obrigar o jogador a explorar cada canto do mapa, pois sempre que se avança na história, novos eventos e personagens para recrutamento no reino vão sendo liberados ao longo dos seus 4 principais reinos e uma forma de fazer o jogador ver isso é com missões que os fazem viajar pros 4 cantos do mapa e cada borda das cidades. Normalmente consideraria isso algo bem positivo, pois instiga a exploração, mas acaba sendo anulado pelos outros fatores mencionados: em resumo, não existem estímulos maiores que fazem o jogador querer ver tudo que ele tem a oferecer.
E falando sobre reinos, uma das coisas mais interessantes na gestão dele é que cada personagem contratado é único, possui suas características e um certo grau de personalidade, embora nada muito elaborado, é necessário fazer uma missão pra cada integrante do reino de Evan (sem exceção), cada um tem um nome, origem e uma certa motivação, isso gera uma vida pra eles, não existe nada de graça nesse sentido. Vendo assim, é algo positivo, pois, como mencionado anteriormente fica perceptível uma dedicação muito grande nessa parte, pois é possível administrar muitas coisas.
Ni no Kuni II é mediano na maior parte do tempo, com exceção de…
Então, eu concluo que a coisa mais interessante de NnK II está na soma de todos as suas características, isto é, não tem nada que realmente o faça brilhar fortemente (com exceção de sua trilha e visuais, que falarei mais a frente). Sua história, por exemplo, que agora é supostamente mais madura que no primeiro jogo, é envolvente e cômica, mas com alguns engasgos. O maior deles são os vários personagens que deveriam ser principais e simplesmente não tem brilho, parecem não ter significância e diminui muito a empatia e preocupação com eles, ficam genéricos e o critério de seleção pra party fica por conta de números: sua força, senti falta de um desenvolvimento e envolvimento maior deles na trama e com Evan, algo que é fundamental para RPGs.
Por muito tempo durante a campanha, o game deixa o player curioso sobre o real significado de Roland na jornada e do Garoto curioso, mas no final parece que o próprio jogo se perde em sua história, deixando ela toda para Evan, que de fato tem uma boa progressão e evolução como personagem. A conclusão de Roland é muito nebulosa, parece que ele tem um papel importante, mas não fica claro o que realmente o trouxe para o mundo de Evan, tudo isso pra uma inspiração sobre unificar o mundo? E o mesmo acontece com o garoto curioso, achei sua adição um tanto sem sentido, era somente pra mostrar mostrar o futuro do futuro em um final super (hiper) feliz?
Como dito no começo, a história envolve e é emocionante em alguns pontos, seus espaços em branco deixam uma curiosidade genuína pra saber o que vai acontecer, mas as respostas decepcionam um pouco. Fazendo com que sua jornada valha mais a pena, do que seu fim, além de que tem vários momentos cômicos que arrancam sorrisos sinceros, principalmente por parte de Lofty, o kingmaker de Evan, o personagem não substitui o carisma de Drippy, mas tem os seus momentos.
Outro ponto positivo fica para os visuais, não se trata dos gráficos em si, que podem ser considerados um tanto datados, mas do estilo artístico adotado, para além da faceta de anime, e isto conta desde os desenhos dos monstros e personagens, que são bem carismáticos até sua paleta de cores vibrante e colorida, isto é carregado desde Ni no Kuni I e é uma marca da série.
… uma trilha sonora muito boa!
Esse pode ser de fato um dos elementos mais marcantes de Ni no Kuni II. É perceptível o quão bem composta as trilhas são, das cidades, aos temas de chefes e até mesmo do combate com inimigos comuns. Quem jogou o primeiro título, percebe uma diferença logo na entrada do game, que refaz a trilha tema, mas em uma versão mais orquestral com um uso nítido de trompete e instrumentos familiares de sopro, algo que se torna uma marca ao longo da trilha, e que casa perfeitamente com o tema de reinados. Em minha visão, seu compositor, Joe Hisaiashi, acerta bem, mantendo a qualidade e até melhorando em relação ao primeiro game.
Um rato, uma fada e um demônio com chifres e asas
Outro ponto conflitante é sua gameplay de combate, é fácil ficar numa relação de amor e ódio em relação à ela, porque embora seja bastante dinâmica e menos cansativa em relação ao primeiro, ela é fácil e não proporciona desafios reais, isso se alia aos inimigos, que possui uma falta de capricho muito grande, são literalmente os mesmos do início ao fim do jogo, e só alguns novos são introduzidos em algumas partes, como os mechs em Broadleaf e os dinossauros o resto é sempre um rato, uma fada e um demônio com asas e chifres, brincadeiras a parte, existe uma gama muito pequena de variedade neles para um suposto mundo grande e explorável, até alguns chefes são idênticos aos inimigos comuns, só que em uma versão maior, não existe tanta estratégia para derrotá-los, é só bater sem parar.
O primeiro game traz uma diversidade de inimigos muito díspar de Ni no Kuni II, são páginas e páginas de detalhes das criaturas e características delas no bestiário, suas evoluções, fraquezas e tudo mais. Nada disso existe no segundo game, apenas o boa e velha mudança na palheta de cores e uns detalhes a mais ou a menos para diferenciar os imigos em cada mapa.
Vale lembrar que para quem explora, existem criaturas especiais espalhadas pelo mapa que estão corrompidas (apresentam uma aura roxa emanando delas) e proporcionam um desafio maior, mas a dificuldade delas se resume à um maior HP (pontos de vida) e dano causado, seus movimentos e estilos de combate são os mesmos, e volta pro cansativo bater sem parar.
Concluindo
Na contramão de todos os seus defeitos, acredito que ainda vale a pena experimentar o jogo pela construção de sua jornada e diversidade que ele oferece em relação ao primeiro, fazer uma primeira jogatina e conhecer o seu mundo, mas muito dificilmente, pra mim, valerá um replay.
Em comparação com o primeiro game, há menos consistência entre os elementos da narrativa com os elementos de gameplay, a história é menos sensível, isto é, os personagens não se importam tanto com os ambientes, os monstros, o mundo geral ao seu redor. O livro de Oliver no primeiro jogo mostra a consistência de seu universo em relação ao que vai sendo apresentado durante a jornada, enquanto que Ni no Kuni II só se aproveita desse universo sem expandi-lo muito (salvo os momentos como em Ding Dong Dell, foca mais em sua própria narrativa, que apesar de divertida e cômica, é fraca.
Vale lembrar que infelizmente o jogo está totalmente em inglês, sem prévia de uma tradução tão cedo.
É isto, obrigado por ler até aqui! Você concorda, discorda? Deixe sua opinião nos comentários, adoraríamos ler
Fontes: Ni no Kuni II: Revenant Kingdom
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