Uma das Escolas de design mais influentes do século XX, uniu forma e função impactando a arte e fundando o design moderno; saiba tudo sobre a origem da Bauhaus e sua influência
A Bauhaus é uma das Escolas de design mais influentes do século XX, não para tanto, pois leva o título de ser a primeira Escola de design a existir. Surgiu na Alemanha, com o objetivo de unir arte e função, mudando a forma como muitas pessoas vêm o design até hoje. Esta Escola não apenas moldou o design industrial, mas também teve um impacto profundo na arquitetura, arte e educação.
Com princípios que valorizam a simplicidade, funcionalidade e racionalidade, a Bauhaus desafiou os estilos artísticos convencionais da época e literalmente elevou o Modernismo a outro patamar. O legado da Escola continua a ser relevante, influenciando designers contemporâneos e movimentos de design ao redor do mundo.
A história da Escola Bauhaus é uma jornada extensa, ainda que seu período ativo tenha sido curto, que revela como o design pode impactar a vida diária. Neste post, vamos explorar a origem, seus princípios e como se dá a influência da Bauhaus nos dias atuais.
Walter Gropius
Vamos nos esforçar, conceber e criar o novo edifício do futuro que unirá todas as disciplinas, arquitetura, escultura e pintura, e que um dia se erguerá em direção ao céu pelas mãos de milhões de artesãos como um símbolo claro de uma nova crença que está por vir.”
História da Escola Bauhaus: o começo e fim
A Bauhaus surgiu em um período de grande agitação na Alemanha. O contexto social e político da época desempenhou um papel vital em sua formação.
Após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha enfrentou várias crises. O país passou por mudanças econômicas e sociais drásticas, dentre elas a implantação de um espírito liberal. A inflação cresceu e havia um desejo por renovação cultural. Muitos artistas e intelectuais buscavam novas maneiras de expressar suas ideias e valores.
Havia um desejo que a economia Alemã crescesse e fosse competitiva com os mercados externos como Estados Unidos e Inglaterra, com mão de obra qualificada, bom ensino de artes que gerasse maior produção industrial.
Nesse ambiente, a necessidade de um novo estilo de design começou a se destacar, o movimento modernista ganhou força. Na Alemanha, o modernismo arquitetônico Neues Bauen, que teve Peter Behrens como precursor com seu trabalho para a empresa AEG, influenciou o design industrial já conseguiu, com sucesso integrar arte e produção em massa. Esse contexto forneceu o terreno fértil para o surgimento da Bauhaus.
Walter Gropius está por trás da origem da Bauhaus
Fundada em 1919 pelo arquiteto e designer Walter Gropius na República de Weimar, Alemanha, a Bauhaus emergiu da fusão entre a Escola de Artes Plásticas e a Escola de Artes Industrial Kunstgewerbeschule. A missão da Bauhaus era educar artistas e artesãos na prática de um design que unisse beleza e utilidade. O objetivo era criar objetos que pudessem ser produzidos em massa sem perder a estética.
Gropius queria integrar as artes aplicadas e as belas artes, unir a profissão do artista e do artesão para que fossem classificados da mesma forma. Ele acreditava que as artes produzidas por estes profissionais pudesse criar um tipo de arte que fosse tão funcional, quanto agradável visualmente.
O currículo da Escola incluía pintura, escultura e design industrial. Ao combinar técnica e criatividade, Gropius buscava romper com formas tradicionais de pensar sobre arte e design. Essa abordagem inovadora tornou a Escola uma referência no mundo do design moderno, impactando o ocidente europeu, Estados Unidos, Israel e até o Brasil.
Vale lembrar que os princípios que viriam a integrar a Bauhaus já eram discutidas antes mesmo de seu nascimento pela organização de designers alemães, a Deutscher Werkbund (1907), onde temas como produção em massa, a relação de utilidade e beleza e a função na beleza em si eram discutidas. A organização serviu como base para a Bauhaus.
Mudança para Dessau
Embora Gropius incentivasse uma visão não politizada para Bauhaus, ela era vista como anti-nazista, que se colocava contra os ideias do partido nazista e devido à isso o partido fazia uma forte perseguição à Escola, os vendo como uma espécie de ameaça comunista, chegando a escrever artigos que a denominavam como “anti-germânica”, além de reprovarem seu estilo modernista.
Em 1925, devido a pressões políticas do governo nazista, a Bauhaus mudou-se para Dessau, que proporcionou um ambiente mais favorável para a Escola, lá ela teve uma fase de grande crescimento e influência.
Durante esse período, surgiram muitos dos icônicos projetos de design e arquitetura associados à Bauhaus, como o próprio edifício da Escola em Dessau, ícone arquitetônico tombado como Patrimônio Mundial da UNESCO (1996) e as Casas dos Mestres (Meisterhäuser), onde viviam os principais professores da Escola, Paul Klee, Wassily Kandinsky e László Moholy-Nagy.
Vários móveis icônicos também foram produzidos nessa época, como a Cadeira Wassily e a Mesa Laccio (de Marcel Breuer) e a cadeira Barcelona de Ludwig Mies van der Rohe.
O fim da Escola
Anos mais tarde, em 1932, a Escola foi forçada a se mudar para Berlim devido ao crescente poder do partido nazista, que via a Escola como uma ameaça. No ano seguinte, em 1993, sob crescente pressão política, a Bauhaus foi fechada. No entanto, muitos dos seus professores e alunos emigraram, levando consigo os princípios da Bauhaus para diversas partes do mundo, influenciando o desenvolvimento do design e da arquitetura globalmente.
Princípios do Design da Bauhaus
Os princípios do design da Bauhaus focam na combinação de forma e funcionalidade, a interdisciplinaridade entre diferentes ofícios, e a importância da tipografia e uso de cores, além do princípio da produção em massa, para se associar a produção industrial. Esses princípios ajudam a moldar o design moderno.
Forma e função
A relação da forma é que ela está é diretamente ligada à função. Os Designers acreditavam que a estética deveria servir a um propósito, e não focar em ornamentos insignificativos. Isso se via em móveis e objetos que eram bonitos, mas também práticos. As linhas eram simples e limpas, evitando enfeites desnecessários. Cada peça era feita para ser útil. Essa ideia era radical para a época e influenciou diversos estilos de design posteriores.
Objetos como as já citadas cadeiras Wassily e Barcelona, mas também a cadeira Cesca de Marcel Breuer, mostram como a forma pode unir estética e uso. Unindo materiais de aço tubular e couro para criar as peças, que eram leves e duráveis. A funcionalidade era um critério essencial para qualquer projeto.
Vale destacar também objetos como a lâmpada Wagenfeld (de Wilhelm Wagenfeld), conhecida como lâmpada Bauhaus, com base de vidro e estrutura de metal e a luminária Kandem projetada por Marianne Brandt.
A Bauhaus se tornou multidisciplinar
A Bauhaus promoveu a colaboração entre diferentes disciplinas, como arte, arquitetura e design. Essa abordagem interdisciplinar incentivava a troca de ideias e técnicas entre alunos e mestres.
Os alunos aprendiam uma sobre marcenaria, metalurgia, entre outros ofícios e tudo isso sem entrar em alguns aspectos como história, para que não fossem influenciados por outros artistas. Dessa forma, os designers se tornavam versáteis e capazes de produzir usando diferentes técnicas nos trabalhos.
O objetivo era criar produtos que integrassem arte e indústria. E torna o design acessível a todos, unindo beleza e funcionalidade em um só lugar e nessa peças únicas foram criadas.
Produção em massa
A noção de simplicidade e de interdisciplinaridade era necessária não só no sentido de cumprir com a função, mas para tornar o design de suas produções acessíveis para outros artistas, arquitetos e designer replicarem, facilitando a produção em massa dos produtos.
O design gráfico da Bauhaus: tipografias e uso das cores
Na Bauhaus, a tipografia era primordial e tinha uma função muito clara: comunicar, de forma eficiente e visualmente atraente. Tipos sans-serif eram preferidos por sua simplicidade e legibilidade.
Um exemplo é a tipografia Universal Typeface (Tipografia Universal), talvez, a mais famosa das tipografias criadas na Bauhaus. Desenvolvida por Herbert Bayer em 1925, a fonte foi um exercício em racionalidade e simplicidade. Bayer eliminou todas as letras maiúsculas, criando um alfabeto unicase, e focou em formas geométricas básicas para os caracteres, alinhando-se com a estética funcionalista da Bauhaus.
Outra tipografia bem emblemática criada na Escola pelo professor Josef Albers é a Bauhaus. Desenvolvida em 1925, ela usa formas geométricas simples, como círculos e linhas retas, para criar uma aparência limpa e moderna. E é, inclusive, a tipografia que a Cultura Pixel escolheu para representar todo o material visual desse artigo.
As cores também eram escolhidas com cuidado. Elas eram usadas para destacar informações e criar harmonia visual. A paleta de cores era muitas vezes limitada, focando em tons primários.
Foi na Escola que surgiu a Farbkreis, “Círculo de Cores”. Desenvolvido pelo professor Johannes Itten após estudar a relação de harmonia das cores e perceber que elas podiam transmitir emoções e causar efeitos psicológicos diferentes nas pessoas. O círculo organizado por Itten mostrava as relações de cores complementares, contrastes e harmonias.
Na arquitetura, as cores eram usadas para destacar elementos estruturais e funcionais dos edifícios. Em vez de usar cores ornamentais, as cores tinham um propósito claro e funcional. Walter Gropius, por exemplo, usava cores primárias para distinguir diferentes partes dos edifícios: as cores poderiam indicar áreas de acesso público e privado.
Unindo os estudos tipográficos e das cores, o design gráfico desenvolvido na Bauhaus trouxe mudanças significativas também. Isso se reflete em cartazes, livros e até na sinalização urbana. As escolhas estéticas eram pensadas para facilitar a comunicação visual com o público, um aspecto importante e que é presente no design moderno.
Os emblemáticos cartazes para as exposições da Bauhaus produzido por Hannes Meyer, sucessor de Gropius na direção da Bauhaus, e Herbert Bayer, traz as noções discutidas aqui sobre tipografia e cores, usando formas geométricas e paleta de cores limitadas em contraste para criar impacto visual.
A influência da Bauhaus no design
Desde seu surgimento a Bauhaus influenciou diversas obras de arte pelo mundo. Em Israel, a Cidade Branca de Tel Aviv, considerada Patrimônio Mundial da UNESCO, é uma das arquiteturas que mais absorveu o estilo Bauhaus, mais ainda que as arquiteturas alemãs, a cidade possui até mesmo um museu denominado Bauhaus que reflete o minimalismo do movimento.
Da mesma forma Brasília, a Capital do Brasil, também sofreu uma forte influência da Bauhaus em toda sua arquitetura, feita por Oscar Niemeyer. Desde edifícios residenciais, até as construções públicas, e ainda, no design visual das sinalizações da cidade, por volta de 1970, que adotaram a ideia de cores como função para indicar diferentes localidades.
No design moderno
A Bauhaus mudou o design para sempre. Muitos produtos, móveis e gráficos modernos usam linhas simples cores primárias e cores geométricas, isto também se reflete em peças gráficas (cartazes, edições de vídeo, capas de álbuns etc) músicas e até videogames, com interfaces mais limpas.
A mistura arte e tecnologia, pregada no passado, ainda persiste, em objetos do cotidiano como móveis para decoração de casas, luminárias, utensílios domésticos etc. Tudo seguindo o que um dia foram os princípios da Escola. Bons e clássicos exemplos, de produtos e design visual com a estética moderna influenciada pela Bauhaus está nos logos e produtos da Apple e IKEA e Muji, dentre outras.
A abordagem de design da Apple, sem dúvidas, possui influência Bauhaus, com suas linhas limpas, simplicidade funcional e estética minimalista em produtos como Macs e os atuais iPhones, que são conhecidos por sua elegância e usabilidade.
Da mesma forma a IKEA aplica os princípios da Bauhaus ao oferecer móveis que combinam funcionalidade. Suas peças são projetadas para serem práticas, fáceis de montar e visualmente agradáveis. Vide sua linha de produtos Billy, umas das mais vendidas da empresa.
A marca japonesa Muji também adota uma abordagem de design que enfatiza a simplicidade e a funcionalidade. Praticamente todos os seus produtos, móveis, utensílios etc evitam o excesso de ornamentação e são projetados para serem práticos, a despeito do seu Banco empalhável extremamente simples.
Na educação moderna
Como mencionado anteriormente, a educação Bauhaus mudou como as Escolas de design funcionam. O foco em combinar teoria e prática tenta preparar os alunos para os desafios da sociedade moderna, além de promover colaborações entre diferentes áreas para educação.
A faculdade de Arquitetura e Urbanismo do MIT, denominado MIT Media Lab, que possui uma abordagem interdisciplinar, combinando design, tecnologia, ciência e arte proporciona disciplinas e projetos focados em bioarte e robótica.
Como podemos ver, a Escola de artes Bauhaus, apesar de sua curta existência, teve um impacto monumental, no design, na arquitetura e na educação artística moderna. Seus princípios de funcionalidade, simplicidade e integração interdisciplinar continuam a influenciar designers e arquitetos do mundo moderno.
Referências
Bauhaus: Art as Life. Aesthetic Magazine. Disponível aqui. | The graphic designer’s guide to bauhaus design. Linearity. Disponível aqui | Bauhaus: uma escola de design! Life of Design. Disponível aqui | Professores da Usp analisam os 100 anos da Bauhaus. Jornal da USP. Disponível aqui